Carta aberta a um famoso cronista e ativista de múltiplas causas politicamente corretas, reserva moral da nação antes do tempo
Quando for tempo de o sol de pôr e o horizonte for banido pela penumbra, não saberás das costuras da verdade – e serás guiado ao lugar onde os presentes convivem com a exaustão da verdade, por saberem que ela é bordada pelo olhar de quem a cauciona. Não dirás “a verdade é esta”, porque essa é apenas a tua verdade e não tens autoridade (intelectual e moral) para a impor sobre os demais.
Dirás: é apenas uma força de expressão (quando dizes “a verdade é esta”). Não tens de te refugiar num pretexto para esconder as tuas intenções. Podes tecer um argumento, mostrar o teu raciocínio e o lugar aonde ele te leva, sem teres de começar a alocução por “a verdade é esta”. E se considerares que é tão importante invocar a verdade, ao menos unge-a com uma expressão evocativa que deixe perceber que é “a tua verdade”. É diferente de a apodar “esta é a verdade”, num registo absoluto. A verdade não se absolutiza. Não é um registo que se abate, tão totalitário, sobre quem te ouve ou quem te lê.
Não te esqueças que sobre ti se abate a mácula das ideias que convivem mal com a liberdade (não tem merecimento dizeres que hoje és social-democrata). Por muito que o queiras negar, mesmo que, para o efeito, recomponhas o passado para o reabilitar do opróbrio indesmentível. Porventura é essa ossatura que te influencia a proclamar, ufano e convencido, “a verdade é esta”. Nem toda a gente tem de aceitar o mundo como tu o vês. Não podes arrastar para a exclusão – ou, o que seria pior, para a mitomania – os que divergem da tua mundividência. Pois se eu discordar de “a verdade é esta”, serei tido como mentiroso? Quando te apresentas de modo tão totalitário como credencial de uma ideia ou da tua interpretação de um facto, estás a causar essa exclusão. Como se não fosse admissível a dissidência da tua hermenêutica.
Sabes? As palavras não são inocentes. Quem as prepara é ainda menos inocente. Nas palavras que ficam emolduradas para memória futura, devemos ter o cuidado de as empregar com diligência. Para não sermos apanhados em falso e sobre nós se abater a negação do estatuto que pretendemos ostentar em público – um fazedor de opinião, senador antes do tempo.
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