16.11.21

Os nomes bons

Explosions in the Sky, “Flying”, in https://www.youtube.com/watch?v=2bSQISgJtBg

Pudesse ser usurpação. Pudessem apenas revestir a medula com as cores desmaiadas da noite nórdica. Os nomes passavam de demanda em demanda, um amontoado sem espécie a pedir inventário. As pessoas só queriam nomes bons. Mas ninguém sabia o que eram os nomes bons.

Numa ponte, os passos transversais tiravam o bolor das varandas onde se adivinhavam os nomes. O vento não era um pressentimento trágico. Se em vez de vaidade o chão fosse feito de lhaneza, ninguém se importaria das horas a mais no desproveito do dia. Mas havia um compêndio onde estavam emoldurados os nomes bons. Ninguém perguntava por que eram esses nomes, os que tinham solene letra de forma nas páginas embuçadas, e não outros. Às lombadas dos livros podiam ser retiradas impressões digitais incontáveis. Uma multidão curava da sua ambição aos nomes bons. Consideravam-na legítima, a essa ambição.

A usura dos nomes seguia o rastilho dos nomes apontados. Eram nomes nómadas, o direito ao máximo elogio pelos forasteiros desses nomes. Não queriam outra comenda, os que dela se ufanavam. Os outros, aspirantes a um nome bom ou apenas humildes servos, desfaziam-se em incessantes genuflexões. Os nomes bons distavam léguas dos nomes demais. O precipício não participava a necessidade de uma ponte. Aristocraticamente entronizados, os nomes bons traduziam uma grandeza de que não se sabia paradeiro. E, todavia, os fundos tão fundos onde havia crocodilos famintos insinuavam-se para os aspirantes que não conseguiam deixar de ser nomes bastardos. 

Nas hastes pontiagudas da noite, a deferência tornava-se anónima. Os nomes bons, emaciados, adulteravam-se na penumbra. Por isso se dizia que a noite era democrática (desde que não fosse nórdica no equinócio de Verão). Os sentidos avizinhados sobrepunham-se. A gramática perdia modos. Os nomes eram nomes, todos da mesma igualha.

Os nomes são apenas uma máscara que veste o fingimento nas pessoas.

 Em vez de futuro, a alvorada mantinha os termos de um tempo gasto. Os nomes antepunham-se nos vitrais da razão. Não havia convites válidos e as pessoas dançavam no parapeito da loucura. Não sabiam dizer os seus nomes. Só os nomes dos outros. Esses, que eram os nomes bons. 

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