São sete os pés (e não as saias) dos que trazem a fuga pela trela. Podiam ser saias, sete: os fugitivos podiam esconder-se na torre de babel das saias umas ensarilhadas nas outras. Mas nem todos são homens para usar saias. Já sapatos, todos usam. Todas usam. Até elas podem ser fugitivas.
E se sete pés são precisos, é porque todas as pernas são poucas para fugir do que se quer ser fugitivo. Antes dar corda aos sapatos, fazer com que nas pernas assentem pés, os sete, para que depressa fique distante o que se quer ao longe. Dirão os vulgares: só precisa de sete pés quem se dispensa da audácia para ir de frente aos contratempos que, nos covardes, legitimam uma fuga. Estarão enganados. Não há o menor laivo de covardia em ser-se fugitivo. Sê-lo não quadra com uma prova de incapacidade. É um ato de lucidez. Ninguém devia ser confrontado com o auto-exercício de mergulhar num mar cheio de contratempos se os puder ladear.
Fugir é, contra os melhores prognósticos, um ato de coragem que não está ao alcance da obviedade. É como fazer um desvio e ir pelo caminho mais longo, sabendo que o caminho mais rápido não é o melhor caminho. Às armadilhas que arroteiam o caminho diz-se não. Não se faça constar que perante elas devemos sempre a capitulação. Quando esse for o único caminho a ligar dois pontos no mapa, é uma empreitada imperativa. Havendo modos diferentes de atalhar o contratempo, só se ganha em paz ao saber como evitar o terreno minado. Os sete pés podem até ser poucos para o estatuto de foragido.
O corpo que não hesite: se oito, nove, dez ou mais forem os pés em inventário, que se deite mão a todos eles se for a garantia para a supressão dos contratempos. Não seremos o negativo da nossa original fotografia se todos esses pés forem usados para a fuga providencial. Não haverá maior afoiteza.
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