A culpa não arrefece na estepe onde desaguam as lágrimas. Por dentro do sangue, evapora-se o dia sentido. Destrona-se o dia a favor da noite primaz. Arruma-se o coldre onde se albergam as palavras sem fiel. É o chão que não chora, a carne empedernida que nem com todas as lágrimas derramadas seria macio.
Podia ser que se tratasse de um chão infecundo, as poeiras vindas de lugares contaminados com o ressentimento de outros apeadeiros. Não se sabia. Naquele chão não havia sementes que pudessem convocar o bramido da Primavera. Não havia vida a fruir nos alvores da Primavera. Pelas estações fora, a aridez era uma constante. Ao menos, ninguém protestava contra a hibernação da natureza que se ausentava da sua pujança. A nostalgia não entrava no labirinto do vocabulário.
Diziam que eram máscaras que substituíam os rostos cansados. Não se viam, os rostos cansados, disfarçados pelo véu que os açambarcava. Mas também não se viam essas máscaras. Outros juravam que ninguém precisava de ser procurador dos rostos para lhes garantir a melancolia. Era a rima inalienável do chão sem fermento que dava nome à geografia. Mas era uma melancolia à parte, ímpar. Os entendidos confiavam que fosse causada pela penumbra perene que parecia tomar conta do horizonte. Era como se as poeiras levantadas do chão embaciassem o olhar, na terra sem vulcões que parecia um cemitério de cinzas.
As palavras passavam mudas entre a indiferença dos tempos. Os rostos eram netos de um emudecimento geral. Sobre eles deitava-se um torpor que vinha a preceito de um chão que não conhecia ruínas. Nem assim as pessoas capitulavam. Os seus olhos escondiam um fundo oculto que guardava um lance de esperança. Não era o chão sem pátria que os desmotivava. Subiam a um promontório e de lá ficavam, de atalaia ao avesso do passado.
O chão não conta. Quem o habita é que lhe afeiçoa um rosto.
Sem comentários:
Enviar um comentário