Não se fala das farsas que nos deixam na posição de arquipélago. Sem o véu das farsas, ora se é boçal e estruturalmente desconfiado, ora se é benevolentemente bem-educado e cortês. Não é no cortejo das afirmações que se povoam as almas sem inventário. Delas é o elevado bocejo que distrai os incautos.
E tudo pode não passar de um tremendo fingimento. Os benevolentemente boçais apenas fazem de conta que o são, dados a uma fortaleza em que se investem contra as aleivosias que o resto do mundo engenha. Os estruturalmente corteses usam essa máscara para esconder as segundas intenções e os maus preparos que se levitam desde o magma mais fundo. E todos seremos atores de um teatro onde depomos no pelourinho das intenções disfarçadas.
Os cavalheiros armados de boas intenções desfilam um excesso de educação. Desfazendo-se em cortesias gelatinosas, aldrabam os descuidados. São as suas vítimas preferidas, os inocentes que se arriam diante de tanto cavalheirismo. Depois, é apanhar distraídos os cavalheiros da tanta boa-educação, dando uso à mais vernacular linguagem, ufanos por terem atraído ao covil dos cândidos meia dúzia de desacauteladas almas, sem piedade destroçadas na baioneta que fala pelos logros de que são tutores.
Da forma como o mundo está, é mais seguro desconfiar do excesso de educação. À partida, o que se espera do estruturalmente boçal é o pior. A tradução das suas intenções não pode ser um mal maior do que o esperado. O pé oferece-se atrás das possíveis mordacidades que venham a cometer. Mas se o observador estiver na posição de genuíno acreditador das boas intenções de um lobo disfarçado de ovelha, cedendo à perspicuidade das boas maneiras que inundam o espaço em redor, poderá o ato saldar-se pelo maltratar de quem foi creu. De um meirinho do excesso de boa educação só podemos esperar o pior.
Da forma como o mundo está: não tem serventia tirar as medidas pelo espelho que se oferece ao olhar, acautelando a probabilidade, estatisticamente mais relevante, de o avesso ser o saldo obtido quando o rescaldo é feito. O excesso de educação, e as muitas vítimas que deixou no caminho, é a sementeira farta dos estruturalmente boçais.
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