24.12.21

Já não há renas no Natal (conto natalício às criancinhas, com declinação ambientalista)

Nell and the Flaming Lips, “Red Right Hand”, in https://www.youtube.com/watch?v=5QZlUpgTRtg

Reaprendam, petizes: por decreto assinado pelo regente da organização internacional que superintende a paz e as causas politicamente corretas (um senhor vosso conterrâneo, por sinal), este ano não conseguirão deitar o olhar em renas voadoras tripuladas por S. Nicolau (homessa! O Pai Natal) sulcando os céus para distribuírem os presentes que vos calharem por determinação natalícia.

Não se apoquentem os que verterem umas lágrimas de nostalgia. É uma questão de hábito. Daqui a uns anos, quando já não representarem o Natal como uma quimera, como os mais velhos vos ensinam, nem sequer se lembrarão que havia renas a transportar o Pai Natal e as prendas encomendadas. Nessa altura, virá à superfície a vossa boa consciência ambiental. Agradecerão às gerações anteriores o desassombro de mudar os costumes em homenagem aos interesses de animais indefesos.

Ainda não se sabe como o Pai Natal fará a distribuição das prendas. Alguma coisa se há de improvisar. Não vão ficar sem o Natal. Percebem que no mundo muito moderno em que vivem, em que se torna exigente a reconstituição de maus costumes, depressa substituídos por costumes politicamente aceitáveis (até deixarem de o ser mais à frente), não se pode aceitar a exploração de animais pelo Homem (e pela mulher). Não se pode obrigar animais indefesos a trabalhos forçados, sendo apenas instrumentos da vontade dos homens e das mulheres. 

Há vozes importantes que sussurram um segredo mal guardado: o Pai Natal vai continuar em funções e será transportado por drones feitos de propósito para a função. É o que quadra melhor com os ares destes tempos, tão marcados pela herança que a tecnologia nos deixa para memória futura. 

Não se apoquentem, o Pai Natal vai continuar em funções – e é isso que mais vos interessa, precocemente enfeitiçados pelos malefícios do consumismo. O Pai Natal vai continuar em funções. Pelo menos enquanto não houver um adiantado mental a descobrir que um idoso em idade de reforma não pode trabalhar.

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