Na base deste suor, a indiferença. Um princípio geral de indiferença. Um feixe de luzes que entra pelo olhar e o deixa atonitamente anestesiado, como se tudo estivesse parado no tempo e nada possuísse importância. As rimas seriam apenas arremedos de falas perdidas em rumorejos. Ou farsas alinhadas no arsenal das desconfianças que eram o estado geral da humanidade.
Na base de cada hesitação havia uma suspeição de indiferença. Os olhos deitavam-se ao lado e não sentiam o torpor próprio de uma existência limítrofe. A desimportância alinhava-se no altar onde se amparavam os disfarces. Era como se tudo fosse feito de conta e do fundo das coisas viesse um visceral nada como substantivo. Do olhar para o lado sobrava um deserto que magoava. Tinha consciência que uma ausência podia ser invasiva.
Em nome de outrem, as sílabas partidas, como se cada uma constituísse a autonomia de uma palavra, um demorado bocejo que representava a partida do nada. Do nada provinha e não havia legítima faculdade de saber do seu antónimo como casa de chegada. Os provérbios extinguiam-se (para fortuna da língua). As promessas não chegavam a ocupar um lugar na casa da partida. Todas as angústias eram carregadas no alfobre dos destroços como partes estilhaçadas que arrumavam a linhagem de um passado sem alicerces.
Numa paragem do tempo, entre duas carruagens que iam para partidas diferentes, arroteei a esmo os baldios desarrumados. Subia ao miradouro para saber do desnorte. Só então poderia cuidar das arestas, para do desnorte deixar de ser refém. No processo cabia o princípio da indiferença. Um olhar interior, purificado (tanto quanto possível), sem expressão sensível do que fosse exterior, era tudo o quanto era preciso para a medida necessária do espaço distante.
A indiferença não era a obstrução do exterior. Tomava como critério para desembaraçar os medos outrora povoados. A indiferença era o segredo para não ser doravante indiferente ao que fosse exterior. É o princípio que explica a inoculação por vacinas.
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