A base inconcreta – invocava o poeta – não é o lugar inóspito onde assentam as dúvidas. Se os pés se metessem pela floresta depressa saberiam da sua infertilidade: a floresta desfalecida era o palco devastador.
O clima mudou e a geografia também. Os rios não passam de uma timorata expressão da fortuna que transportavam quando os Invernos eram Invernos tal como foram concebidos. A vegetação deixou de irradiar a pujança imaterial com o rastilho da Primavera. Só o Verão conserva a sua identidade, todavia estendida por períodos mais duradouros. Dir-se-ia: deixou de ser sedutor o mergulho na natureza, porque a natureza está adulterada. Um murmúrio ressoa, como se fosse anunciada a transformação das florestas em meros baldios.
O jeito macilento das árvores impõe-se ao olhar. Parece que as árvores suplicam ajuda, condoídas pela adulteração do clima que as transfigura enquanto atrizes no palco onde se movimenta a natureza bruta. A natureza deixou de ser uma força bruta. Não passa de uma ténue imagem do que foi outrora. É da natureza decadente que se fala. É da nossa decadência que se impõe falar, como agenda imprescritível.
Já não é em opulência que se pensa quando as imagens da natureza ascendem ao pensamento. A floresta desfalecida é apenas um sintoma. Um sintoma feito de uma confluência de forças paradoxais. Se os rios emagreceram e deixam à mostra uma grossa fatia de terra que já nem sequer lamacenta é, os mares ameaçam invadir a terra que estava a salvo das marés mais furiosas. A água emagrece de um lado e torna-se ameaça do outro.
E nós, presos à pobreza que nos consome na estreiteza do efémero, vemos passar a angústia mais óbvia que devia ser a maior fonte de cismas. Somos nós, na deriva suicidária de que não damos conta, os fautores da nossa própria decadência. O resto vem por conta dela. E nós, não deixamos de ser os selvagens que alimentam essa condição.
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