Serviço de assistência ao cidadão: os países, quando entram numa guerra, pagam IVA pelas armas que compram? E a pré que pagam aos soldados atirados para os campos de batalha, desconta para efeitos de IRS?
Ai de quem defenda que a guerra não paga IVA. Ai de quem defenda que uma guerra é uma excecionalidade e que, por o ser, tem de estar isenta de impostos. Dizem: a economia de guerra é uma economia de emergência e, em casos de emergência, os impostos são metidos entre parêntesis, à espera que a emergência deixe de o ser. Para os economistas, habituados a pensar na estreiteza dos seus apertados corredores mentais, este é o pior dos cenários, pois o erário público perde por todos os lados: não cobra imposto à guerra e gasta mais dinheiro (e muito) para a pagar.
Os impostos são a fatura endossada ao inimigo. (Que palavra abjeta!) Pagam-se em sangue derramado, em angústia inflacionada, em vidas ceifadas – pois as vidas do inimigo valem sempre muito menos do que as vidas do beligerante que o agride. As vidas de quem está do outro lado da barricada não valem nada. De outro modo, não eram friamente esfouçadas nos campos de batalha, nos lugares onde se lançam os obuses cegamente assassinos. Esse é o imposto cobrado ao outro beligerante, também ele coativo e unilateral, sem dar direito a uma contrapartida.
Esta linguagem soez que amesquinha o Homem não traz à lapela o cobrador de fraque que esquadrinha os livros de contabilidade deduzindo impostos em falta. Ainda o serviço de apoio ao cidadão indignado com a indignidade dos seus pares atravessados numa beligerância: muito provavelmente, as armas compradas pelo país mergulhado numa guerra não pagam IVA. Pois, se pagassem, seria uma cobrança em círculo fechado: o IVA pago alimenta o erário de quem o pagou. Como uma vez ouvi a um pesporrente magnata ao pagar a conta do jantar num restaurante que integra a sua carteira patrimonial, “sai de um lado, mas entra pelo outro”.
A guerra também paga IVA. Essa é a metáfora maldita, talvez a mais maldita de todas, que enxameia a guerra. Pense-se em todas as categorias de impostos que a muito fértil imaginação dos burocratas ao serviço do fisco podem congeminar; para se saber a fatura fiscal da guerra, juntem outros tantos tributos que ainda estejam por inventar.
Só falta saber o número de contribuinte da guerra.
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