Podia ser uma metáfora para a vozearia que se desembaraça quando a excitação (ou a exaltação) toma conta de uma conversa. As pessoas agarram-se aos pontos de exclamação e nem dão conta de o fazer (os pontos de exclamação não se colam à fala como sinais visuais). Se fosse para usar outra imagem, em jeito de reforço da metáfora, é como os atores revisteiros, fadados para o pregão inflamado e para o humor de fracos pergaminhos, a entaramelar a fala – ou, como imagem do avesso, a monocórdia enfastiante do ministro da economia.
Não se enfeitam as palavras com os necessários pontos de exclamação, a julgar pela tonitruante e exuberantemente ornamentada maneira de compor uma fala. As palavras não parecem sopesadas. Saem aos empurrões e a fala acaba com declinações que sofismam a serenidade. Tudo se passa como se a fala fosse sempre inflamada – porque, há que convir (mandam as preferências da maioria), somos latinos e os latinos são ladinos em tudo o que fazem.
Os espanhóis levam a palma. Junte-se um punhado de espanhóis num aeroporto: de comício montado, são imbatíveis no campeonato dos decibéis. De acordo com um teoria (cuja validade científica não foi possível demonstrar), quem sobe nos tamancos dos decibéis tem dificuldades auditivas: falam alto porque têm a necessidade de ouvir o que dizem. Daí os espanhóis e a vozearia invencível. Não há quem use pontos de exclamação com tanta prodigalidade. Tanta, que é convenção gramatical o ponto de exclamação preceder a frase antes de a concluir. Tudo começa e acaba por um ponto de exclamação.
(E o escritor incorre em grave falha ao não ter rematado a frase precedente com um ponto de exclamação.)
Os pontos de exclamação são as balas que magoam as frases, ferindo-as com distrações que servem para desviar da sua inteligibilidade. Quem lê uma frase pontuada com uma exclamação perde-se no ornamento do ponto de exclamação. Atingido pelo fogo inimigo da pontuação gongórica, o leitor – ou o ouvinte, quando as exclamações se enredam na fala – fica sem bússola para se guiar. Deve servir os propósitos dos useiros e vezeiros de pontos de exclamação: dizem o que querem, porque quase todos apenas conseguem ouvir os pontos de exclamação que disfarçam as intenções.
A falta que faz a fala povoada por espaços em que o tempo se devolve em juros líquidos ao leitor. A falta que faz a depuração de pontos de exclamação, para a fala ficar fria e enxuta, nítida ao leitor, como só o teatro consegue alcançar.
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