Tudo se passa às escondidas. No segredo dos que têm acesso aos segredos. Não se fale de transparência, a não ser que se queira enganchar a multidão num logro imenso.
E, todavia, uma certa ética constitui-se modismo, como se fosse a gramática do sistema vigente. Não se inaugurem, com a pompa habitual, discursos celebratórios de uma prática que não passa dos compêndios onde se entretece a teoria. É a máscara que serve de cobertura ao tudo que é decidido na opacidade dos bastidores. A ética legitima tudo. Mesmo que, extraído o véu que esconde os bastidores onde tudo se passa, a ética seja uma palavra vã e se dissolva na sua enantiopatia.
Os bastidores operam como o antídoto do palco onde habita a multidão. É aí que participam no grande disfarce que sobre eles se abate, com a custódia dos procuradores da ética que depois, no recato dos bastidores, praticam o seu esquecimento. A instrução que se oficializa participa deste embuste. Ai dos que denunciarem o logro. Não escapam ao desdém geral (até daqueles que são vítimas dos bastidores) e são leiloados à conta de lunáticos que não fazem se não convocar conspirações.
É nos bastidores, longe do escrutínio das presenças incomodativas, que se jogam os jogos que importam. Sob a aparência de um sol radioso e magnânimo, o palco que é jogado nos bastidores bolça uma cortina de espelhos que multiplica céus embaciados. Não se distinguem as palavras ecoadas; aparecem disformes, ininteligíveis, são embaraços ao entendimento comum. Como se aparecessem disfarçadas numa linguagem cifrada, uma linguagem só do conhecimento dos assíduos dos bastidores. Os demais são remetidos ao palco – o palco, onde tudo o que importa devia ter lugar e, todavia, só deixa à mostra um quinhão do que se negoceia nos bastidores.
Há quem garanta que a informação é o novo petróleo. Não se angustiam por pertencerem a uma coutada que é a negação, e explícita, do que se dizem ser embaixadores. A menos que se desprendam das regalias dos bastidores e aceitem, de vez e para bem do sistema vigente, que os dogmas que se restringem a uma teoria sem representação devem ser estilhaçados. A bem da transparência. Para não oferecer o flanco aos luditas que tão diligentemente perseguem o sistema vigente e o querem adulterado (ou pior).
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