2.12.22

O futuro não interessa

Nils Frahm, “All Melody” (live), in https://www.youtube.com/watch?v=7IZOdI2jdKU

Fala-se de mais do futuro.

E, todavia, poucos se projetam para as vénias vindouras sem ultrajarem o tempo existente. São venais representantes de uma cidadania que se extingue no propósito de prever o imprevisível. Agacham-se, temerosos, na dialética imponderável. Quando se lembram de olhar em retrospetiva (num diletantismo sem serventia), encontram a sua servidão perante um tempo que só se consuma nas suas próprias condições.

O futuro não interessa. Deviam-no levar como mnemónica, como se fosse possível depositar o lema na faixa superior da tela onde ecoa o pensamento. O futuro não interessa: ponto final. As pessoas que esgotam o tempo sensível em múltiplas digressões por um tempo ainda fantasma perdem-se na encruzilhada constante que é o presente. Nem chegam a perceber que o presente é efémero, como se acreditassem que é o sucessivo desfilar de instantes, o modo do presente, que cimenta o foro do futuro. Quando o futuro se encontra num apeadeiro, deixou de o ser. É uma névoa que se extingue sem prazo.

O futuro não interessa porque é contingente. Amadurece na medida de um andamento próprio, insensível aos apelos de quem julga nele encontrar um propósito. Não interessa, porque é especulativo. Poderá ser do agrado dos que se jogam no tabuleiro onde apenas conta a errante sucessão de acontecimentos, como se ela resultasse de um atirar de dados para o tabuleiro que por eles espera para lhes dar tradução. O futuro, quando corresponde ao esperado, é uma coincidência.

Ninguém é órfão do futuro. O arsenal de medos não se estende pelo tempo fora, pelo que tempo que está em espera. Os medos são uma imagem do presente, condimentado pelos sismos que hipotecaram o passado. Não se invista o futuro como refúgio. Desacreditem-se os que juram ser detentores de oráculos. Não sabemos nada do futuro. Por isso, o futuro não interessa.

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