Quem precisa de outrem para ser o mimo que fala na sua vez? Quem confia cegamente no portador de voz como tradutor do seu pensamento? Quem precisa de esconder assim do público?
Sou contra portadores de vozes. Convocatória ao rigor: sou contra os que delegam a sua voz noutrem porque dão a impressão que fogem ao escrutínio. Não o conseguem na íntegra, pois as palavras do portador da voz estão sempre expostas ao escrutínio. Há uma diferença que faz toda a diferença: se os escrutinadores interrogarem as palavras ditas, quem tem de oferecer resposta não é o titular das ideias mas o portador das palavras que as transpõem para a comunicação. Quem fica entalado não é o figurão, mas o portador das suas palavras. E não é justo, a menos que o portador de voz saiba que existe também para servir de carne para canhão.
Sou contra os portadores de vozes porque, por mais que sejam fieis às ideias que as traduzem, algo se há de perder no ruído surdo da comunicação. Quando o portador de voz se limita a ler uma comunicação possivelmente redigida pelo delegante, não existe este défice de transmissão. Neste caso, não se entende por que o figurão precisa de uma marioneta falante. Se não for o caso, e a trela tiver margem de manobra para o portador de voz usar as suas palavras para reproduzir as do delegante, o mais certo é existirem brechas aqui e ali que adulteram o que o delegante quis comunicar. Se for intencional, o figurão deve ser acusado de ludibriar os destinatários das suas mensagens. Esconde-se no biombo atrás do portador da sua voz.
Sou contra os portadores de vozes porque os delegantes aparentam temer o público, ou, por tão importantes serem, nem sequer têm tempo e paciência para informarem as tão importantes coisas que delegam no portador de voz. Soa a desprezo pelo público.
Sou contra os portadores de vozes porque se intrometem entre o figurão e as pessoas, quando não deviam existir filtros entre ambos. São responsáveis pelo ruído que contrafaz a comunicação. Representam a metáfora da falta de coragem. Corporizam o excesso de protagonismo de quem devia existir apenas nos bastidores.
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