A enseada era o refúgio esperado. Não havia pessoas. O entardecer poluído pelas palavras sobrepostas, uma cacofonia insolente, estava extinto. Havia apenas o mar diante dos olhos. O mar sentido, isento de ondas, que beijava vagarosamente a praia vigilante. E as costas, a opacidade irrelevante.
A algibeira era portadora de um punhado do moedas. Moedas diferentes. Era uma amostra do mundo andado nos tempos recentes. Não escondia o orgulho em ser cosmopolita, acreditava que o conhecimento de diferentes lugares era o melhor tirocínio da vida. Dispôs as moedas em fila no parapeito do miradouro sobranceiro à enseada. Num equilíbrio instável, as moedas assentando sobre a fina parte lateral, amparadas pelas irregularidades do amurado. Passou em revista todas as moedas, enquanto convocava a primeira memória dos lugares que correspondiam a cada moeda. O valor de rosto podia não coincidir com as memórias atestadas.
Um golpe de vento corrompeu o equilíbrio instável de algumas moedas dispostas. Não todas. As que se mantiveram de pé podiam corresponder aos países baluartes. As outras, seriam a expressão de uma fragilidade. A distinção permitia tirar outras conclusões. Muitas vezes, as fragilidades representam uma fortaleza que escapa ao olhar até do mais atento. Esses são os segredos que trazem a melhor recompensa à curiosidade dos sentidos.
Se juntasse todas essas moedas e as propusesse em troca uma outra, a uma espécie de moeda-franca, que moeda seria? Não seria a moeda forte, banalizada no sistema monetário. Seria uma outra moeda, de um lugar ainda por visitar. Um lugar em espera pela sedução trazida por informações avulsas. A moeda de troca, à espera que a vontade se desembaraçasse da hibernação.
Passou os dedos pela pele. Os poros exibiam os lugares contumazes. Como se fosse um mapa que descobria os lugares por demandar, os lugares que, uma vez visitados, derrotavam a angústia do conhecimento minimalista. A simulação das moedas era mais do que um jogo. É a vontade que não desbota quando os olhos param diante do planisfério. A moeda de troca assume a forma de todas as milhas percorridas, todos os aviões embarcados, todas as cidades inventariadas, todos os idiomas e as cores e sabores e credos e raças que mobilizam a condição de forasteiro contínuo. Dessas coisas intangíveis.
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