De: primeiro-ministro
Para: cidadãos, em geral, e crianças, em particular
Caros concidadãos e petizes com tanta sede de natal: sabem que natal significa nascimento? A Constituição declara que o país é laico. Não é aceitável que o natal seja limitado a uma celebração religiosa. Temos de ser ecuménicos. O natal, quando existe, é para toda a gente (que o quiser). Todos, para sermos alguém, nascemos em primeiro lugar.
(Para agradar aos outrora consortes da geringonça).
Festejem o natal como vos aprouver. O que interessa é o gozo da liberdade, para não sermos reféns de uma celebração obrigatória.
(Para agradar à Iniciativa Liberal, com endosso de desculpas – porque o natal é pedir desculpa a quem magoámos – pelo destrate de que os liberais foram vítimas recentemente.)
Este ano, decidi criar uma polícia do natal. A ASAE do natal, por assim dizer. As renas têm de ser fiscalizadas, para confirmar que não são maltratadas pelos tratadores, hipótese em que todos seríamos cúmplices de inqualifáveis maus-tratos a animais.
(Para agradar o PAN e os ambientalistas em geral. Os Verdes foram extintos do parlamento, deixaram de contar – como já antes não contavam, ao serem verdes por fora e vermelhos por dentro – para a equação dos equilíbrios politicamente diplomáticos.)
A polícia do natal certificar-se-á que todos têm direito a uma prenda e a uma vontade subjetiva garantida para o ano vindouro, especialmente aos que sejam oprimidos no (ou pelo) trabalho.
(Destinado aos camaradas do PC.)
Também terá competência para atestar se o que vai à mesa da consoada respeita as tradições culturais, perseguindo os fautores de todas as iguarias natalícias treslidas, os cozinheiros afetados e os adeptos do multiculturalismo que tiverem autorização para ir para a cozinha.
(Destinado ao Chega e ao seu líder omnipresente, mau grado seja público e notório que o governo e o partido que o suporta – ou vice-versa – delimitaram um cordão sanitário contra este partido. Mas é natal, a concórdia fala mais alto e a imagem do primeiro-ministro precisa de ser refrescada depois de vicissitudes recentes.)
Como derrogação do preceito anterior, a polícia do natal esforçar-se-á por proteger os pais natais que se apresentem como mães natais ou como indiferenciades natais, ou como pretos natais (com a licença para usar a palavra “preto”), que a diversidade de género e de raça e de opções de identidade sexual também tem lugar @ mesa.
(Dedicado aos companheiros do Bloco, que às causas fraturantes não se deve apor gesso – e o ministro dos comboios vela para os seus serem bem tratados).
(O CDS não teve direito a beneplácito. Desapareceu do parlamento e agora não sai das sacristias.)
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