Protomartyr, “Make Way”, in https://www.youtube.com/watch?v=wc2bqR33RNM
Bêbados, os estroinas investiam contra o mobiliário urbano. Afinal, ao mobiliário urbano são assacados todos os males (à falta do esquecimento, caso em que a culpa seria devolvida ao suspeito natural, o capitalismo). Assoavam-se às ramagens das árvores, que precisavam, mais do que nunca, da fotossíntese que só seria agenda horas depois, quando o sol destronasse os vultos da noite. Entretanto, mais um bar aberto, em violação das posturas municipais que determinavam o prazo de validade da folia. Entraram. Beberam umas bebidas brancas (antes que os novos verificadores da língua aceitável não atirem a designação para canto, acusada de manifesto racismo). Continuaram a desordem, descombinados com a polícia que fazia rondas fora do perímetro do bardinos. Pararam diante de um cartaz avantajado com o rosto do primeiro-ministro em pose de curador de todos nós – o autêntico timoneiro. Leram, va-ga-ro-sa-men-te (o álcool embacia as dioptrias e estica as sílabas), o mote: “comigo, estão em boas mãos”. Não lhes ocorreu a má colocação da vírgula; se estivessem sóbrios, um deles (o mais aborrecido no zelo pelo bom tratamento do idioma falado e escrito) não deixaria escapar a derrapagem gramatical e diria não estranhar, pois sua excelência tropeça na sintaxe, na gramática e na articulação de sílabas (na sua mania de ser austero com as sílabas, metendo-as por atalhos que encurtam a duração das palavras). Urinaram à frente do cartaz messiânico. Era mais do que uma metáfora. Aquela era uma mija literal para o sujeito do cartaz. “Ai se a polícia viesse agora” – atirou um dos boémios. “Íamos presos por isto?”, respondeu com uma pergunta um dos outros. “Claro. Atentado ao pudor.” “De quem? De sua excelência?” Já só foram a tempo de parar a função quando esgotaram o stock armazenado nas bexigas (e se era tanto!). “Não tenham medo, companheiros! Aqui não há ursos!”
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