11.5.23

A frustração do ministro das finanças da Holanda (texto um bocado marialva, mas só como recurso estilístico)

Queens of the Stone Age, “Crucifier”, in https://www.youtube.com/watch?v=7iOS1mNyvoc

(Advertência: o ministro das finanças da Holanda que entra nesta história não é o que está em funções)

O ministro das finanças da Holanda lembrou-se de parodiar os nativos do Sul da Europa que, de acordo com a sua eminente visão sociológica, gastam dinheiro a mais em mulheres e vinho (verde, ao que consta). Foi deste selo mal lambido que se lembrou para justificar o estereótipo de prodigalidade nas contas públicas que assolava os países do Sul da Europa quando a União Europeia vivia sob o estigma de (mais) uma crise. E ele, vindo de um país impecavelmente disciplinado, queria apostrofar os esbanjadores do Sul da Europa, que deviam aprender com a retidão que se pratica, sem desvios, por aquelas protestantes latitudes.

Ninguém cuidou de esquadrinhar o currículo do ministro das finanças da Holanda – não o currículo profissional; a sua vidinha, tão vidinha como a vidinha do comum dos mortais, com a diferença de, uma vez na vida, ter abocanhado tão relevante sinecura e, por mercê do facto, a sua voz ter sido propalada aos quatro ventos sobre uma Europa derruída.

Aqui vai uma teoria com o beneplácito da especulação, pois esta teoria não tem pilares que a alicercem como tal. O ministro das finanças da Holanda foi um mal-amado toda a vida. Se fossem à dark web da sua vida, encontrar-se-iam páginas de desamores e intensos momentos onanistas por não encontrar correspondência com donzelas que pudessem saciar os prazeres carnais. O ministro das finanças da Holanda embebeu o catecismo protestante e não bebia álcool às refeições, a menos que houvesse ocasião especial e a solenidade puxasse a perna para o hedonismo, metendo um parêntesis na austera forma de vida protestante, ocasião em que se vingava de tudo o que lhe apeteceu beber mas a castração interior impediu.

O ministro das finanças da Holanda é aquele frustrado que não conseguiu ter sucesso entre o sexo feminino, servindo-se dos prostíbulos (legais no seu país) para se aliviar de outras repressões, cuidando, ato contínuo, de endossar o alívio da consciência para os bárbaros povos do Sul da Europa, eles abertamente marialvas, misóginos e propensos à frequência de meretrizes. Descobrir-se-ia, se a investigação alusiva tivesse sido empreendida, que o ministro das finanças da Holanda tinha em sua posse um estudo sociológico com credenciais acima de qualquer suspeita que provava o sucesso económico dos bares de alterne nos países latinos em que são proibidos, por comparação com a exiguidade de resultados económicos dos lupanares legalmente instituídos no seu país.

O ministro das finanças da Holanda babava-se ao passar ao lado de uma loja de vinhos. Espreitava pelo canto do olho e à noite sonhava com orgias regadas a dispendiosos vinhos franceses. Os outros é que arcam com a má fama, enquanto o ministro das finanças da Holanda, e os seus patrícios que assinaram por baixo a descoberta altamente sociológica, fazem de conta que são querubins, modelos de virtudes que podem cobrar as desvirtudes dos mal-afamados povos latinos que só pensam em coisas hedonistas.

Nós por cá, temos um provérbio para avivar a memória esquecida do ministro das finanças da Holanda: não olhes para o que eu faço, olha para o que eu digo. 

Já ao défice de consciência, o ministro das finanças da Holanda disse nada.

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