14.6.23

A casa da partida (regresso)

Saxophones, “If You´re on the Water”, in https://www.youtube.com/watch?v=AAB8tA36ox8

Em manhãs de bruma, o marco geodésico reconcilia a alma. Perde-se a atalaia metódica dos medos e das angústias, não fossem convocados por destino. Em vez de vultos arqueados sobre os alicerces, havia apenas as palavras adocicadas que serviam de rumo ao olhar desimpedido.

Pela tarde, no equinócio do dia, eram validadas todas as dúvidas persistentes. Sem elas, tudo deixa de fazer sentido. Era como ter a casa da partida como casa da partida e o modo não encontrava outra solução. Ao contrário do que se podia julgar, a casa da partida não era uma saudade. Não era uma ilusão, como se houvesse uma dissidência com o presente. A casa da partida era o endereço onde tudo se afere quando o equilíbrio foi devassado. Não é apenas um fingimento.

Desde a casa da partida, era possível regressar a um lugar mental para saber que não se podia materializar esse regresso. A casa da partida era a procuração do tempo ainda ausente. Nela se situava o estirador que era preciso para a arquitetura de uma saudade futura, ao jeito do poeta que popularizou a imagem. Era da casa da partida que tudo voltava a acontecer. Um recomeço, mesmo que o caminho de regresso à casa da partida não fosse um labirinto. Às vezes, a casa da partida é apenas contígua ao lugar existente, por muitos que tenham sido os caminhos percorridos e os lugares demandados. Nem sempre a medida do lugar presente é a lonjura que o tempo insinua.

Um regresso não é o lugar nostálgico que dialoga com o tempo pretérito. É a casa da partida a que é preciso ir para não sermos reféns do acaso, no pouco da vontade que podemos arregimentar contra o jogo de acasos que nos jogam no tabuleiro das circunstâncias. Sem contar com a turbulência que não conta com a nossa vontade. Sem contar com a extinção da luz que nos depõe no avesso da vontade, à mercê de um labirinto onde se compõem desregras. 

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