Há um mercado dos segredos. Um mercado que os vultos visitam, furtivamente. Emprestam segredos contra juros. Quem os paga são os que não vivem sem açambarcarem segredos alheios, porque são estes segredos que animam as suas vidas. Os segredos dos outros são o oxigénio sem o qual as vidas dos que pagam juros pelos segredos seria um sacrifício.
Os segredos são inventariados. Há uma categoria dos segredos avulsos. Quem arremata um segredo avulso não sabe sobre que é aquele segredo. Mas não são assim todos os segredos – matéria por revelar, uma incógnita a pesar sobre a curiosidade dos demandantes, até ser descoberto? No mercado dos segredos, há os segredos inventariados por categorias e os segredos avulsos. Os que não querem aparecer nos segredos que pertencem a uma categoria. São os segredos mais anónimos.
As pessoas gostam de experimentar o mercado dos segredos. É o que se diz, de segredo em segredo, segundo fontes credíveis. Corre o segredo que não há vivalma que não tenha os seus segredos, tanto é o manancial que alimenta o mercado dos segredos. E como estes são tempos da privacidade dissolvida por iniciativa de quem a devia tutelar, os segredos já não são segredos porque nunca chegam a ganhar espessura de segredos. Aparecem imediatamente no mercado dos segredos, às vezes contra a vontade dos seus fautores, por intermediação de uns piratas dos segredos que se movem nos interstícios das palavras e furtam, ao acaso, segredos em barda.
Como é apanágio do socialismo vigente, a longa mão visível estendeu-se ao mercado dos segredos. A pretexto de ser matéria muito sensível, os reguladores do mercado dos segredos querem impor regras de receção e de divulgação dos segredos. Não deram conta do óbvio, os infatigáveis engenheiros sociais: se os segredos são segredos, são-no sob o alto patrocínio da igualdade, os engenheiros sociais não têm privilégios na catalogação e na revelação dos segredos. Não sabem deles em primeira mão.
No mercado dos segredos, fica-se a saber que todos os interessados entram com um véu sobre o rosto e à saída estão de rosto descoberto. Quer os que vão depositar os segredos, quer os que deles participam na condição de voyeurs. O mercado dos segredos é uma contradição de termos.
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