Podia ser como nas corridas de automóveis, a bandeira amarela desembainhada quando o perigo fareja à saída de uma curva, não a deixando ser traiçoeira. Mas fora das corridas de automóveis não há cartas registadas com aviso de receção. É uma das grandes fragilidades de deus (a ser provada a sua existência). Ou nossa, enquanto a epifania não for retirada da lava.
A matemática e os modelos com a ajuda da cada vez mais intensamente inteligência artificial deviam ser inerrantes. Por exemplo, para as previsões do tempo não estarem à mercê de erros de cálculo, ou de interpretação (culpa que só se abate sobre os humanos), e não ser possível a natureza atraiçoar os peritos – e as pessoas todas, de caminho. Com tanta e artificial inteligência, está por explicar a sua falência quando a sofisticada ciência cede ao ímpeto da natureza. Não se entende como a natureza pode mais do que a inteligência artificial.
O ideal era não haver cancelamentos por intempéries, ou por outros cataclismos imputados à força bruta da natureza. É quando a natureza se liberta do jugo dos humanos para a devida colocação das coisas em seus lugares: as pessoas é que estão à mercê da natureza, não é ela que se submete à sindicância escrupulosa da tecnologia no seu estado mais avançado. Porque ninguém gosta de cancelamentos. Mas a perfeição não gravita na nossa órbita.
Ou podia-se apenas atirar uma mnemónica para cima da mesa, como se fosse a eterna tela mental a servir de fundo ao pensamento: nós é que somos a fragilidade; a natureza, o agente indomável. Por mais que fiquem emoldurados – e com a prosápia típica de quem admite em silêncio, sem reconhecer por palavras, a sua fragilidade –, sucessivos episódios em que a natureza se deixa domar.
Só para sermos reféns das nossas ilusões e adiarmos a vingança da natureza, quando a natureza se cansa de nós.
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