16.11.23

Corrigenda

Black Rebel Motorcycle Club, “Love Burns” (Sergio Manifesto Re-Edit), in https://www.youtube.com/watch?v=9cw5NApyb5o

Assim que seja o desmame, atiram-se os dados à circunstância depois. Evitam-se os congestionamentos arrastados pelas tribunas onde amanhece o tempo. Por uma vez, a ira arrefece, não há temporada que albergue o sangue que de outro modo se ateava numa combustão avulsa. 

A alvorada depõe o luar centrípeto. Para os que foram reféns da insónia, a lua extravagante foi metediça. A lua adejou sobre a noite interminável, cercando as vítimas da insónia. E nem por se terem despojado dos paramentos da sobranceria, nem por terem admitido a pequenez no imenso palco a que sobem as matérias sublimes, se diga que ficaram cativas de alguma aprendizagem. Não conseguiram fugir da noite. Ao sentirem o sabor da manhã, reivindicaram um lugar próprio. Baniram a insónia. 

Fez lembrar junho na paisagem nórdica. A noite demorava, o dia teimosamente alojado no perímetro dos olhares, os corpos desabituados a estas latitudes imersos numa convulsão horária, inventando as suas próprias insónias. A noite perene que se levanta no Inverno amordaça os corpos a sonos desalfandegados, ou os corpos sublevam-se para confundirem as horas com a persistente dotação da noite?

Não se diga que as bainhas ofendem os dotes estruturais que as congeminam. Não têm vontade própria. Não falam como procuradoras de uma voz própria. O êxtase demove os almocreves que se sitiam em logradouros limítrofes: fogem intencionalmente dos lugares demandados pelos demais, cultivam uma indiferença soporífera. As medalhas angariadas não chegam para aplacar o rendilhado futuro de que nada se sabe. Pudesse ser livre a leitura das páginas, agora uma e depois meia dúzia à frente, para depois regressar atrás, umas duzentas páginas a eito, e seríamos penhores da nossa vontade. 

Dizem que somos sepulturas pressentidas. Que não vindicamos a pureza que se extrai da nossa intrínseca impureza, esgrimidos pela anestesia pública e coletiva. Dizem que somos como areia no deserto, matéria que não é caderno de encargo de sementeiras fecundas. Não importa. Somos quem somos, e essa é a corrigenda que ilustra a credencial bastante.

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