Mogwai, “Fanzine Made of Flesh”, in https://www.youtube.com/watch?v=hKFvvSE4SCo
Esta é a situação. E nós, aprisionados a ela, somos a água levada na eira onde fermenta um situacionismo que hipoteca a vontade. Toda ela dada como dote às alvíssaras da situação enformada. Mas somos nós que deixamos hipotecar a vontade que cede ante uma situação; somos nós a congeminar a situação, ela não existe sem curadores, nós que, com a passividade, atamos os nós que nos prendem à situação que fabricamos.
É falso arrematar as bainhas de uma situação pela denúncia formal da nossa vontade. Dirão: só a apatia habilita uma situação que arrasta consigo um situacionismo de que somos sujeitos passivos. Diga-se em réplica: mas isso só é possível porque deixámos silenciar a vontade, foi da nossa anemia que medrou a situação. Por mais que venhamos a protestar (moderadamente) contra a situação que cerceia a nossa vontade, ela emergiu por demissão da vontade que podia ter obstado à sua emergência.
O situacionismo não é antidemocrático. Não é um ferrolho que inativa a nossa vontade. A situação a que aderimos é a soma das construções nesse sentido e da apatia que se estende por um largo mar de gente. Só os que se mantêm vocais contra a situação é que têm legitimidade para estar na trincheira de onde se movimenta a oposição ao situacionismo. Esses são os heróis a consagrar. Por mais que tencionem substituir o situacionismo por outro de diferente linhagem, por pior que possa ser julgada a alternativa que propõem, não deixam de ser heróis. São eles que falam contra o discurso único que se imporia caso não tutelassem a sua vontade em sentido contrário ao da situação vigorante.
O situacionismo não revoga a imunidade dos que dele se afastam. Seria um contorcionismo intolerável se a situação se estendesse como um império irrevogável, fulminando as alternativas com o degredo próprio que é sentenciado pelos déspotas. Para ser situacionismo, tem de ser democrático. Na linhagem da tolerância que admite que um situacionismo seja reposto por outro situacionismo de diferente linhagem. O situacionismo, qualquer que seja, só não é democrático quando resulta da vontade unilateral de um déspota ou de um escol que compõe uma oligarquia.
A existência de um situacionismo é uma constante.
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