Wilco, “War on War” (live on KEXP), in https://www.youtube.com/watch?v=G5vocx74XS8
As bocas amortalhadas esbracejam verbos penosos – não querem ser acusadas de fala gongórica. E, todavia, ficam cercadas pelo chão espinhoso onde as palavras se consomem, cansadas de si mesmas. Por enquanto, dançam em equações arbitrárias, atiram-se sem medo ao fundo de um poço, talvez de lá resgatem um módico de ânimo.
Não são cintados os moldes dos corpos, eles fogem à silhueta e exacerbam as formas. Não devia vir grande mal ao mundo: na bolsa dos valores admitida a concurso, o estribilho da modernidade, é proibido escarnecer da corpulência extravagante das silhuetas disformes que parecem um rio fora do leito. Em vez disso, os olhares deviam ser criteriosamente síndicos dos meandros em que se debatem para não serem reféns da frivolidade que não se despega da moldura onde o tempo se tutela.
Se um salto no escuro fosse a solução, ninguém seria temerário. Ninguém teria medo de precipícios, arrastando-se audazmente entre as viperinas litanias que se antepõem no pressentimento dos nomes hipotecados. Um salto no escuro deixaria de ser um verbete da louca aposta no nada à espera de uma paga em forma de juros. As olimpíadas do desmedo como poesia convexa, algumas estrofes viradas do avesso para não serem o espelho centrífugo onde as almas se lavam do passado.
A acompanhar, uma banda sonora. Para uns, escolhida ao acaso. Para outros, os mais metódicos, escolhida com critério, para não ser exaurida pelo diálogo dos surdos subidos a palco. Dizem que a música não é um pano de fundo para as palavras arquitetadas; mas pode ser a sua tradução, sopesando-as numa gramática feita de colcheias e notas averbadas numa pauta. Ressarcindo o extenuado corpo que se aventurou no salto no escuro e lambe as escoriações em forma de tatuagem.
Não se demora, o salto no escuro. É uma questão de segundos. Depois, fica um tempo que se arrasta à medida que o remoinho de pensamentos dá lugar a estrofes intemporais. Saboreando o paradoxo de paladares que sobem à boca, os corpos extasiados pela novidade inaugurada na sequência do salto no escuro. Cantando o seu hino privativo ao desmedo.
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