The Comet is Coming, “Pyramids” (live at the Bowery Ballroom), in https://www.youtube.com/watch?v=hpXsBC8uOBQ
Quem dita a toponímia das almas?
O sangue é o campeão dos contrarrelógios, avança destemido contra o paredão onde as águas são retesadas. Dizem que precisamos de boas ideias, sem elas somos órfãos nas mãos de madraços diletantes que arrematam as alcavalas. Ninguém adianta os predicados de uma boa ideia. Ficamos à espera que sejam paridas e depois, só depois, tiramos conclusões sobre os seus pergaminhos.
Há quem estranhe que assim tenha de ser: uma ideia só pode ser contrasteada depois de se mostrar a quem de interesse. Devia ser o contrário: devia existir um compasso que orientasse as ideias que estão para nascer, ou que podem nem chegar a ver a cor do mundo e o tempo do tempo, para serem banidas as experiências em cima do joelho que às vezes, mas só às vezes, são profícuas. Muito embora não seja contestável o recurso à improvisação como princípio geral, o exagero do improviso pode-nos desguarnecer: ficamos expostos à contingência e sabemos que a contingência é implacável quando se insurge contra o nosso fado.
Também não se diga sistematicamente mal das pessoas que têm um joelho idóneo e nele tudo preparam, o joelho como o alfobre das ideias. Não precisam de mobiliário, estes peritos em ideias ficam baratos. Se vier do joelho milagroso uma ideia que venha a ser compensada com uma mais-valia não tributável, teremos de agradecer à presciência do joelho. Não sejamos tribunos assanhados contra a perspicuidade da improvisação.
Improvisar pode ser uma boa ideia. Da improvisação pode nascer uma boa ideia. Se não for boa, que seja ao menos ideia. Não podemos ser constantemente exigentes com as ideias se não o somos connosco e, ainda menos, com os nossos semelhantes. Venham as ideias – e não interessa se são cinco, cinquenta ou cinco milhões; elas que venham, que umas são aproveitáveis e outras não encontram paradeiro e estão destinadas ao desaproveitamento. Há um museu de ideias e uma imensa lixeira onde são depostas as ideias sem proveito. Sempre foi assim, não se percebe por que terá de ser diferente quando levantamos o véu do futuro.
Que tenhamos a lucidez para aplicar às ideias o mesmo padrão que nos ajuda a medir os vinhos. Então estaremos mais próximos de descobrir os arquitetos da toponímia das almas e os critérios por que se movem.
Sem comentários:
Enviar um comentário