In http://justwrappedupinbooks.files.wordpress.com/2009/03/lonely-chair-g3393.jpg?w=600
Um excurso na solidão.
Mergulho excruciante na sua própria solidão. Que era avesso a multidões,
sabia-o desde os bancos da escola. Não se desprendeu da aversão enquanto cultivava
a maturidade. Foi nómada com o tempo. Não tinha vocação para se demorar num
poiso. Fartava-se das coisas, da paisagem, do clima, da língua, da gastronomia,
dos hábitos, das pessoas em seu redor.
Não se enraizar sempre fora
prioridade. Tentara perceber a desafeição, por que não trocava o frenético
nomadismo por um serenado sedentarismo. Chegou, contra as convicções, a
consultar especialistas que conseguissem ser hermeneutas de si próprio. Às
voltas do tempo, talvez quando as dores da solidão gritavam nas entranhas e
faziam arder as veias, desfazia as noites de insónia com um cortejo de
interrogações. Era como se se virasse do avesso e tentasse ver, do fora de si,
as cores que o tingiam. Ou como se virasse o espelho do avesso, só para
descobrir o lado que estava escondido.
Nunca obteve respostas
convincentes. Quando açambarcava umas respostas era por cansaço, para derrotar
a intensa curiosidade que o embebia na solidão nessa altura atroz. Era à margem
dos outros, como se deles fosse tão diferente como diferentes são os antípodas.
A maturidade não aplacou as dores que julgara juvenis. Ao contrário, refinou o predicado.
Só dava conta, e as contas incendiavam as veias interiores, quando se achava a
falar sozinho. Havia dias a fio que não dirigia palavra a vivalma. Era quando
saía à rua só para comprar o jornal (não que houvesse préstimo na informação),
ou para beber um café (e ele dispensava a cafeína), ou para amesendar
remotamente com quem estivesse a fazer a refeição no restaurante. Estava
sitiado num paradoxo. Era quando se achava a falar sozinho e a solidão o
contristava que se desembaraçava das peias e partia o baraço da solidão. Mas
mal encontrava gente, arrependia-se.
Envelheceu embebido na
solidão. Já não sabia se o achar-se a falar sozinho era um sedimento de loucura
ou apenas a irremediável solidão. Envelheceu, de mais. Pois por mais tempo
vivido na embebida solidão, mais as apoquentações em que se via naufragar. Nem
a morte queria a sua companhia.
1 comentário:
Porventura a solidão desabitou-se. Naufragou num barquinho feito com papel vegetal. Levou a tristeza enrugada e uma lágrima silenciosa por cumprir. A morte era tão longe ...
"E grandes ondas de silêncio vibram em poemas"
Gaston Bachelard
Enviar um comentário