Contra o espelho puído, a vontade agiganta-se e faz do tempo uma vírgula remediada. A reivindicação dos verbos melhores não se joga contra os tumultos interiores que agitam as águas. Sem a redenção, não sabemos do paradeiro do arrependimento.
A lucidez compõe-se de uma constelação de peles que se acastelam umas em cima das outras. Ao longe, as carpideiras entoam prantos. Queria que esses prantos fossem órfãos. Que interessam os ossos desvalidos se deles não se encontra pilar capaz? Às vezes, as pessoas partem em demanda de um reduto sacrificial onde encontram os párias que dispõem a seu desfavor uma existência condoída. E não reprimem a pulsão autofágica, como se, pelo contrário, dela se alimentassem. As mágoas dos outros são mapas sem tinta para serem arroteados.
Tudo se passa como se subíssemos a palco sem saber dar conta das horas em espera. A pele cobre-se de um disfarce que combina com o ar pútrido que é pior do que a malquista poluição atmosférica. Sob a pele, as tatuagens do passado somam-se em camadas. As imagens desfocadas, umas, e ainda avivadas, outras, ora desbotam ora mantêm os abcessos e os consolos emoldurados sob a tutela da perenidade. A pele procura a destatuagem para ser estátua de si mesma. Irradia a abastada vontade que se arpoa à promissória do futuro, esperando que os juros por vencer sejam a fotografia válida de um passado apreciado através da lente futura. Jura-se um passado que seja orgulho do futuro.
A pele sabe que não consegue erradicar todas as tatuagens de uma só vez. À medida que umas tatuagens se desapropriam da pele, outras esperam pela sua expropriação no sortilégio do tempo, para serem domínio reservado num centímetro quadrado de pele. Nesta substituição, a pele reinventa-se. Desarmadilha-se do torpor que pesa sobre os ossos doídos. Sem a pose envaidecida de borboletas campestres, antes como vegetação silvestre que povoa os baldios. Sem linhagem, apenas a vontade indómita de deslaçar as teias que aprisionam o tempo.
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