As rédeas medem pouco tempo – dizíamos, em pose contemplativa, no absurdo funeral do tempo. À partida considerávamo-nos derrotados: o tempo era um algoz banal e estávamos à sua mercê.
Podia não ser desse modo. Podíamos, se resgatássemos a vontade de um paradeiro incerto, ser procuradores de uma nova geografia do tempo. Seríamos os poetas de um novo contrato e todos os relógios passariam a ser fabricados de acordo com a métrica por nós determinada – como se a nós viesse o direito, divino, porventura, de estampar um novo registo que passaria a comandar o andamento do tempo. Seria um contrato feito para o mundo inteiro apenas composto por nós.
De fora, os arquitetos da rotina diriam sermos um desexemplo. De nós diriam as piores coisas: que tínhamos causado a apneia do tempo, como se a sua dilação resolvesse as moléstias que tomam conta dos desesperançados; insurgir-se-iam por apenas prolongarmos a agonia que é atravessada por tanta gente – para eles, o tempo vagaroso é equivalente a um suicídio que não ousam praticar.
Para nós, eram alegações desimportantes. Fazíamos gala em mudar de mapa quando sentíamos a reprovação a cair sobre os nossos ombros. Queríamos os ombros aliviados de contratempos. Por isso movíamo-nos entre os estreitos corredores de um labirinto ermo, propositadamente ermo para recusar a presença dos outros. Sabíamos que a nova métrica do tempo rimava com uma certa misantropia, e nós éramos a exceção à carnificina dos deuses fingidos.
Conseguiríamos a vocação: a nova métrica do tempo era a caução para termos tempo para termos tempo, outra vez. Era disso que se tratava. Um momento fundacional, que desmatava a inspiração para tudo pesar numa balança de que éramos tutores únicos. Cuidaríamos de ter tempo com o propósito único de termos tempo. Em vez de cedermos à lassidão dos habitués dos tempos madraços, arremetíamos com a reinvenção do tempo em rutura com a maré dominante.
Passaríamos a ser maestros da nossa orquestra. Sem concessões nem postergamentos, apenas lídimos suseranos da coreografia do tempo que se depositava entre as nossas mãos.
Sem comentários:
Enviar um comentário