A geografia disfarçada oculta os pesares, atirados para o santuário da indiferença. Primeiro ato: as lágrimas estão enxutas e os rostos são um bilhete de identidade seráfico, pronto para consagrações ameninadas. Diz-se: não interessa, passemos ao segundo ato.
Segundo ato: os rostos jogam-se contra a penumbra noturna e não passam de vultos indistintos, como se os nomes tivessem sido proibidos na lua desenfeitiçada. Por que precisamos de nomes se não sabemos dos contornos dos rostos? Não era desprovida, a interrogação. Contra ela terçavam-se as ondas do direito que enche a personalidade de direitos. Uma voz recordava: estes direitos não são escamoteáveis; caso contrário, não seremos nada, agora que deixámos de ser rostos (ou que nos desabituámos de o ser).
A dúbia silhueta dos corpos fazia com que fôssemos sucedâneos de fantasmas, quase apenas estilhaços do que fôramos outrora. Precisaríamos, talvez, do terceiro ato: quem determina a ordenação dos nomes, que ordem cósmica transforma o avulso das pessoas numa ordem legítima? Subimos a palco sem marcação prévia. É-nos dado saber que todos se angustiam com a existência de um prazo de validade, datado ou não. Transcende a vontade de que somos portadores. No máximo, podemos contrariar o prazo de validade. Os tutores da dilação são os que tiram maior proveito. Ou não: sejam deles vidas sobressaltadas, tomadas pela mágoa, a dilação não tem serventia.
Quarto ato: os dados atirados ao acaso confessam um devir. Tudo se reconduz a um jogo, sem o seu lado pueril, mas um jogo. Um postal ilustrado que se debate com as cores escolhidas para servirem como legenda. E nós, frágeis como o sabemos ser, corremos de vinco do tempo em vinco do tempo como se não soubéssemos que dos arbustos não colhemos sangue. Somos o nosso próprio pano de fundo, e não se atiram as ilusões interiores contra o caudal que possa ser oposição. Alguém murmura, com ar declaradamente nostálgico: se ao menos fôssemos vulcões, todos saberiam dos nossos nomes.
Quinto ato: esgrimimos os rudimentos da alma que continua a ser desconhecida. Desenganem-se os que acreditam no contrário. Se nem nós somos nomes para os outros que de nós navegam no desconhecimento, o que dizer das almas que povoam o mais fundo de nós?
Os nomes são apenas um disfarce para sermos revelação aos olhos dos mandatários. Com toda essa inutilidade.
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