A maior indecência é das batatas dizer que não têm lógica. Se ao menos soubéssemos de tubérculos para tirar as medidas ao seu quociente intelectual. Mas não somos agrónomos ao ponto de o fazer. A menos que queiramos correr o risco de perpetuar injustiças sob o anonimato dos lugares-comuns que são o bálsamo do povo comum.
As feiras nem sempre eram de vaidades. Cortejo não fúnebre de raparigas casadoiras, aperaltadas para a ocasião e excitadas com a ideia de encontrarem um príncipe perfeito, passeando-se em bando pelas ruas poeirentas da feira. Ao passar nos carrinhos de choque, olham de esguelha para os varões que posam com a pose típica da masculinidade tóxica – a pior pose que podem encenar. Elas não se importam. Foram educadas para obedecerem piamente aos que hão de ser maridos e nem sequer fazem a menor ideia do que é a masculinidade tóxica.
Serão as esposas cientes da sua posição servil, quase escravas sexuais antes de a idade ser madrasta e se tornarem corpos disformes. Antes de os maridos perderem as suas capacidades em meretrizes avulsas e dos prostíbulos importarem maleitas venéreas que, todavia, não arriscam passar às consortes porque as deixaram de procurar. São elas que vão ser consumidas pelas angústias dos filhos atirados ao acaso perante a indiferença de quem se limitou a ser progenitor.
Estas mulheres, vítimas de um mundo que se conjuga no masculino, serão os socalcos onde se pisam as uvas de vidas paralelas. E elas nem aos sonhos têm direito, diretamente atiradas aos caudais vertiginosos que se despenham num desfiladeiro sem aviso prévio, como corpos descartáveis por já não terem serventia de tanto terem servido o egoísta prazer dos consortes. São elas que se afogam nos prantos que rimam com a sua solidão enquanto os maridos apenas o são em estatuto, mergulhados numa cumplicidade de casta com outros varões de idêntica descondição numa peregrinação de tabernas e de vinho desqualificado. E eles, hasteados na boçalidade sociológica, arrotam com o ar ufano de quem conseguiu uma proeza enquanto as fartas barrigas de álcool escondem outras fragilidades agora esquecidas.
Estas são as mulheres que enviúvam e assinam juras de amor eterno aos maridos que dantes as maltrataram e de quem foram passivamente submissas. São elas que nunca mais despem o negro e carregam as olheiras de quem resgata os sonhos nunca atendidos, por falta de comparência de maridos idóneos. São elas que compõem o luto como nudez envergonhada. Ficando à mercê de bruxas que se transfiguram de deuses, enquanto as suas lágrimas preenchem o xisto onde escrevem os recados para do passado trazerem episódios consumidos num nada.
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