Os suores desacreditam as mãos que se entregam ao dia restante. A inexatidão assoma com o ácido sabor de quem já não é domador do seu corpo. São as mãos trémulas que o sobressaltam. Em vez da madurez, soam os sinos da velhice. Afinal confirma-se que o tempo é juiz de toda a gente.
Repara nos espasmos das mãos, milimétricos, é certo, mas espasmos. Talvez quadrem com as rugas que ultimamente enfeitam a pele que cobria as mãos, como se fosse um mapa dotado de orografia. Devia ser esse o entendimento: ao menos, com a velhice e a pele esbulhada, o mapa das mãos é tridimensional. Os novos não podem dizer que albergam um mapa com orografia nas mãos.
Ou, porventura, estava só a disfarçar a angústia. Os gurus de autoajuda não lamentam o envelhecimento; dizem-se preparados para morrer, ela que venha a qualquer momento que já resolveram todas as pendências com a vida de forma a poderem habitar o seu lugar na morte. Ele evita estes pensamentos escatológicos. Já fora testemunha de umas quantas mortes e não o recomendava.
As mãos trémulas são o assentimento da idade. Como se fosse preciso encontrar uma argamassa para amalgamar toda a vida pretérita no povoamento futuro onde o envelhecimento é o mote. Tem esperança que a habituação às mãos trémulas faça com que essa condição deixe de ser um contratempo. Não é conspirador, como se ele próprio se insurgisse contra o tempo. Eram trémulas as mãos e sabia que já não podia ser artesão, se esta vocação fosse achada a destempo.
Começara a perceber que ser ancião não era a inviabilidade de si mesmo. Era o caudal esperado, numa certa estação que, entretanto, teve tanto de voz funda que se hasteou no calendário. Não suplicou por juras nenhumas. Sabia que não conseguia encontrar o avesso das mãos, como se, por quimera, elas viradas do avesso deixassem de ser trémulas. O futuro não tem juros contratados.
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